A Omni prestou atenção ao que eu e meus associados estávamos fazendo e, honestamente, minha paciência estava no limite. Carlos encontrou um olheiro da Omni e conseguiu convencê-lo de que ele não era uma ameaça: porque o Carlos é um sujeito imensamente gente fina, ele nos contatou e nos disse onde encontrar o tal olheiro. Eu levei meus companheiros até o distinto senhor e o convenci do justo oposto - de que nós éramos sim uma ameaça. Não à Omni, mas a continuada existência terrena do cavalheiro. Movido pela força persuasiva do meu argumento, pelos longos e brilhantes cílios e olhar vago do Error1 e pelo fato do Butcher ser literalmente capaz de esmagar um crânio humano como se ele fosse feito de massinha, o olheiro decidou fazer o que ele faz de melhor. Olhar. Para outro lado.
Tão dizendo no jornal que vai ter um pandemônio dos diabos, com vento, trovoadas e tudo mais e que vai acontecer no meu quintal. Parece que eu vou ter de deixar MC1 por um tempo, o que não é grande perda... desde o lance com os frascos da Dra. Soo não tem peixe mordendo e eu tenho coisa importante pra resolver.
Não tem a menor chance de eu sair daquela festa e voltar pra Pedra Rachada sem um senso complicado de desigualdade. Depois do contrato da clínica eu consegui botar uma grana na minha operação e esse foi o primeiro mês que eu vi a cor do dinheiro: vou colocar o grosso dos meus ganhos desse mês para dar um gás no bairro, consertar alguns dos prédios dilapidados: arrumar um espaço maneiro para o Zapata, pro Calliban e pro Error1 montarem os rolês deles com qualidade. Se alguém vier tomar assunto com a gente em Pedra Rachada, eu quero ter condições de recebê-los com pompa e circunstância. Além disso é uma questão de tempo até novos piratas terrestres aparecerem e eu quero que a próxima visita aqui seja, para eles, a promessa de bons negócios pra quem quer negócios e de chumbo grosso pra quem quer confusão.
É certo que o vento vai virar e mais cedo ou mais tarde vai dar alguma merda, então eu vou aproveitar enquanto as coisas estão indo relativamente bem pra me preparar pra noite escura que está sempre prestes a cair.
Eu sempre fui Moz, desde criança. Marcel foi um companheiro de viagens do Harris, e meu avô disse que meu jeito de atirar lembrava o desse companheiro. Mozami eu peguei literalmente do nome de um café: estava paquerando uma moça, ela cismou de ir a esse café e eu achei o nome legal. Anos depois, quando vi a chance de juntar o nome para fazer minha identidade falsa eu me senti muito esperto.
Alguns anos depois, Pedra Rachada está crescendo e crescendo rapidamente: a gente que me olha como líder continua fazendo o que sempre fez, mas daqui a pouca vai chover gente que não presta olhando pra mim como líder - como uma oportunidade. No tiro, fortuitamente eu me garanto, mas o último contrato deixou abundantemente claro que um grupo de advogados é extremamente perigoso, mesmo contra oponentes armados. Eu pedi ao Error1 para tirar um tempo e investir num favor para mim. Primeiro, dissolver, vender e liquidar todos os bens que eu tive no nome de Marcel Mozami e abrir para ele uma certidão de óbito. Que deus o tenha e que terra lhe seja leve sobre o corpo. Depois regularizar minha situação a partir da certidão de nascimento, passando por todos os anos, impostos, documentos e certificações como que eu sempre imaginei que seria - Moz Santos Krill.
Mentir, enganar, hackear 12 instituições governamentais, cometer uma variedade de crimes e fraudes foi - como usualmente é - a única forma de dizer a verdade. É estranho, o mundo onde vivemos, mas de agora em diante meus esforços de colocar Pedra Rachada de volta no mapa da civilização vão ser feitos com um nome por trás.